terça-feira, 11 de março de 2014

A DIFÍCIL CLASSIFICAÇÃO DO ESPIRITISMO COMO FORMA DE CONHECIMENTO

Mauro Quintella

Como classificar a doutrina codificada por Allan Kardec como forma de conhecimento dentro dos padrões vigentes na cultura humana?
Esta tarefa é assaz difícil.
o
Alguns estudiosos afirmam que Espiritismo não reúne as características de uma ciência por não respeitar o método experimental consagrado.
Contudo, outros discordam dessa afirmação, lembrando que existem disciplinas que são consideradas ciências e que também não obedecem à metodologia experimental clássica.
Alguns estudiosos afirmam que o Espiritismo não pode ser considerado uma filosofia por estar alicerçado num processo revelatório promovido por seres desencarnados.
Todavia, outros contestam essa tese, afirmando que o contributo desses seres obedeceu ao ordenamento de um filósofo de carne e osso.
Alguns estudiosos afirmam que o Espiritismo não é uma religião por causa da sua base experimental e abertura filosófica.
No entanto, outros dizem que isto não é suficiente para descaracterizá-lo como uma religião.
o
Neste caldeirão opiniático, vamos encontrar classificações “puras” e “híbridas”.
Uma classificação “pura” é aquela que afirma que o Espiritismo é ciência ou  filosofia ou religião.
Uma classificação “hibrída” é aquela que afirma que o Espiritismo é duas ou três formas de conhecimento ao mesmo tempo.
As duas classificações “hibrídas” mais comuns são:
- O Espiritismo é ciência e filosofia.
- O Espiritismo é ciência, filosofia e religião.
A primeira surgiu entre os espíritas “científicos” do Século XIX no Rio de Janeiro.
A segunda foi postulada por Carlos Imbassahy em 1929 no livro RELIGIÕES COMPARADAS e chamada de teoria do tríplice aspecto.
o
Existem “triplicistas” que realmente defendem uma verdadeira equivalência entre a tríade proposta por Imbassahy e “triplicistas” que clara ou disfarçadamente postulam uma maior relevância do aspecto religioso.
o
Devemos lembrar que uma forma “híbrida” de conhecimento é um algo inexistente para os especialistas no assunto.
Pelo menos, por enquanto.
o
Frente a todas essas dificuldades, como classificar o Espiritismo como forma de conhecimento?
Recorrendo a Allan Kardec?
Acredito que não, pois, contraditoriamente, o próprio codificador do Espiritismo não é uma boa referência para resolvermos esta polêmica.
Embora fosse o pai da criança, Kardec foi também a primeira vítima da complexidade gnosiológica da doutrina criada por ele.
Isto levou o pensador lionês a conceituar o Espiritismo ora como ciência, ora como filosofia, ora como religião (embora num tal “sentido filosófico” da palavra, que muita gente não entendeu até hoje).
Há que considerar também que a conceituação de ciência, filosofia e religião era mais fluida na época de Kardec, assim como a divisão entre essas três vertentes do conhecimento.
o
Sendo assim, na minha avaliação, a classificação do Espiritismo como forma de conhecimento deve ficar no campo da decisão pessoal.

Eu, por exemplo, depois de muito refletir sobre o tema, decidi que, para mim, o Espiritismo é uma doutrina (conjunto de princípios) aberta ao conhecimento científico, ao conhecimento filosófico e ao conhecimento religioso.