Mauro Quintella
Como
classificar a doutrina codificada por Allan Kardec como forma de conhecimento
dentro dos padrões vigentes na cultura humana?
Esta
tarefa é assaz difícil.
o
Alguns
estudiosos afirmam que Espiritismo não reúne as características de uma ciência
por não respeitar o método experimental consagrado.
Contudo,
outros discordam dessa afirmação, lembrando que existem disciplinas que são
consideradas ciências e que também não obedecem à metodologia experimental
clássica.
Alguns
estudiosos afirmam que o Espiritismo não pode ser considerado uma filosofia por
estar alicerçado num processo revelatório promovido por seres desencarnados.
Todavia,
outros contestam essa tese, afirmando que o contributo desses seres obedeceu ao
ordenamento de um filósofo de carne e osso.
Alguns
estudiosos afirmam que o Espiritismo não é uma religião por causa da sua base
experimental e abertura filosófica.
No
entanto, outros dizem que isto não é suficiente para descaracterizá-lo como uma
religião.
o
Neste
caldeirão opiniático, vamos encontrar classificações “puras” e “híbridas”.
Uma
classificação “pura” é aquela que afirma que o Espiritismo é ciência ou
filosofia ou religião.
Uma
classificação “hibrída” é aquela que afirma que o Espiritismo é duas ou três
formas de conhecimento ao mesmo tempo.
As
duas classificações “hibrídas” mais comuns são:
-
O Espiritismo é ciência e filosofia.
-
O Espiritismo é ciência, filosofia e religião.
A
primeira surgiu entre os espíritas “científicos” do Século XIX no Rio de
Janeiro.
A
segunda foi postulada por Carlos Imbassahy em 1929 no livro RELIGIÕES
COMPARADAS e chamada de teoria do tríplice aspecto.
o
Existem
“triplicistas” que realmente defendem uma verdadeira equivalência entre a
tríade proposta por Imbassahy e “triplicistas” que clara ou disfarçadamente
postulam uma maior relevância do aspecto religioso.
o
Devemos
lembrar que uma forma “híbrida” de conhecimento é um algo inexistente para os
especialistas no assunto.
Pelo
menos, por enquanto.
o
Frente
a todas essas dificuldades, como classificar o Espiritismo como forma de
conhecimento?
Recorrendo
a Allan Kardec?
Acredito
que não, pois, contraditoriamente, o próprio codificador do Espiritismo não é
uma boa referência para resolvermos esta polêmica.
Embora
fosse o pai da criança, Kardec foi também a primeira vítima da complexidade
gnosiológica da doutrina criada por ele.
Isto
levou o pensador lionês a conceituar o Espiritismo ora como ciência, ora como
filosofia, ora como religião (embora num tal “sentido filosófico” da palavra,
que muita gente não entendeu até hoje).
Há
que considerar também que a conceituação de ciência, filosofia e religião era
mais fluida na época de Kardec, assim como a divisão entre essas três vertentes
do conhecimento.
o
Sendo
assim, na minha avaliação, a classificação do Espiritismo como forma de
conhecimento deve ficar no campo da decisão pessoal.
Eu,
por exemplo, depois de muito refletir sobre o tema, decidi que, para mim, o
Espiritismo é uma doutrina (conjunto de princípios) aberta ao conhecimento
científico, ao conhecimento filosófico e ao conhecimento religioso.